Eu, Deus e você
Um dia pensando em você comecei a sentir saudades, um aperto muito forte no coração, foi o bastante, bastante para que eu começasse a perder minha própria razão, então chorei e pensei, ou melhor, dei assas ao meu pensamento e voei alto desfiz-me das amarras negativistas que me prendem a este mundo calmo, Joguei para longe todas as crenças e temores que me separam do todo e voei, voei além das estrelas, além dos astros, além dos mundos, além do universo, voei além do principio e do fim, e vi Deus, vi Deus em todo o seu esplendor e falei com Deus com todo o seu o seu esplendor e Pedi a Deus por todo o seu esplendor:
- Me deixa ser o sol? - E ele me fez sol e eu fui sol e brilhei num ponto do universo no centro do sistema e iluminei a terra, e fiz nascer o dia e vi você e brilhei pra você e toquei você, não como quis, mas como pude. Eu queimei tua pele, corei teu rosto e te vi através das janelas das frestas no caminho. E eu te adorei e você me adorou, e ai veio à noite e a terra girou. Eu te perdi não mais te vi, você se foi e eu chorei. Voltei a Deus, falei com Deus, Pedi a Deus:
- Me deixa ser a lua? - E ele me fez lua e eu fui lua. Iluminei a noite fui sem hora na noite e eu brilhei no céu e te vi e te segui não como quis mais como pude. E iluminei você e sorri pra você, e tornei mais bela a palidez de teu rosto, branco de tua pele e velei teu sono te adorei. E ai veio o dia e a terra girou novamente eu te perdi não mais te vi você se foi e eu chorei. Tornei a Deus e vi Deus falei com Deus, Pedi a Deus:
- Me deixa ser a terra?-E ele me fez terra e eu fui terra e vivi sobre o sol e sobre lua e me vesti de relva e me perfumei com flores, e me enfeitei com rios lagos e montes para te agradar, e você se agradou e eu me deixei ser tocado por você, não como quis mais como pude. E você pisou a relva que me vestia e você cheirou as fores todo dia e você bebeu de minha água se nutriu de meus frutos admirou meus rios e lagos e subiu sobre meus montes e me admirou e me sorriu e me curtiu e ai veio o homem sentiu ciúmes, e me invejou e me depredou e poluiu meus rios e lagos. Rasgou minha relva e derrubou meus montes murchou minhas flores e você, você não mais me sorriu, não mais me curtiu e você calçou teus pés sobre asfalto e calçadas e eu te perdi não mias te vi, você se foi e eu chorei. Voltei a Deus, e vi Deus, falei com Deus, pedi a Deus:
- Me deixa ser o sangue dela?-E ele me fez sangue e eu fui sangue e me tornei vida e flui, deslizei, corri e caminhei dentro de você. Eu te dei cor e te tornei saudável e você me sentiu e eu te toquei, te toquei não como quis mais como pude. E você me sentiu e eu habitei no mais intimo de suas entranhas e eu te fui vital, você me adorou, você me curtiu e teve medo de me perder, e quando me via sair de você, você chorava e reclamava e não gostava, e ai veio um dia, um dia em que você me agitou, me fez correr mais rápido dentro de você e eu corri passei como um raio no teu coração e ele palpitou, bateu, mas forte se descontrolou e você me expulsou de teu rosto, e me expulsou de suas mãos, você gelou, você suou você perdeu o domínio sobre si e sobre mim, você amou. Eu me perdi e eu gelei, me acabei e você sorriu para um amor que não era eu e você me deu a esse amor e viveu por esse amor, viveu com esse amor. Eu te perdi não mais te vi, você se foi e eu chorei. Uma vez mais tornei a Deus e vi Deus, falei com Deus, pedi a Deus:
- Me deixa ser um homem, me deixa ser aquele que no coração dela fez morada, me deixa ser aquele por quem ela chora, a quem ela adora como um ídolo, venera como um Deus, acaricia como uma criança. E ele me disse:
- Não-E eu não entendi e chorei, me frustrei, indaguei e ele me disse:
- Serás homem, mas não serás o que no coração dela fez morada, ele é o que veio antes de ti e o que vai ficar, tu, porém a amarás, mas não a terás, a buscarás, mas não a encontrarás, a venerarás, mas não a tocarás. Terás outra mulher e terás filhos com ela e terás uma família, mas ela, a ela quem tu verdadeiramente amas, essa não terás e este será teu julgo e este será teu castigo, castigo perpétuo por ter me pedido além do que te havia dado para consolo teu porem te darei domínio sobre as palavras e as dominarás e brincarás com elas e a subjugarás a lucidez do teu raciocínio e comporás com elas e versejarás com elas e farás grandes obras com elas e este será teu consolo que é dado por mim, e eu te dou para que sempre que a saudade bater as portas do teu coração e começares a perder a tua própria razão, escreverás e te dominarás e te aliviarás.
Eu voltei de Deus, pedi perdão a Deus e ele me fez homem e eu sou homem. Vivo sobre o sol, sobre a lua, sobre a terra, e tenho também sangue nas veias. Eu comecei a pensar em você novamente, comecei a sentir saudades, comecei a perder a minha própria razão. Eu estou escrevendo, eu estou me dominando, eu estou me aliviando.
Autor desconhecido
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