Da Teoria da Neo Prostituição Familiar Consensual, por Carlos Henrique Musashi


    

A Teoria da Neo Prostituição Familiar Consensual


Por Carlos Henrique Musashi – em, maio de 2007.
         
        
Desde que me entendo por gente, é quase uma unanimidade ouvir os pais desejarem as suas filhas, um "casamento feliz", desde que seja com alguém que lhes dê sustento – claro, fora o fato de serem bem sucedidas profissionalmente – se possível; Até porque "amor" só "enche barriga" ao longo de nove meses, porém não paga as contas.
Geralmente, nos bastidores destes “papos-família” descontraídos regados a bebida ou não, o que menos chama a atenção é o substantivo FELIZ, a ficar subentendido no seu real sentido. E o substantivo AMOR, por sua vez, chega a ser inexistente e dispensável. Só faltam dizer para “não confundir casamento com relacionamento afetivo”.
Hoje, balzaquiano e desmistificado, comprovo o que já desconfiava aos vinte e poucos anos de idade: que o caráter é medido pela quantidade de dígitos no contra cheque, ou pelo que aparentamos possuir, do que pelo nosso modus operandi, ou seja, pra ser considerado "digno", por certas famílias, e poder “galantear” uma moça, estar na companhia da filha de alguém, sem sofrer provocações, alfinetadas pontuais e preconceituosas, colher os louros sociais, você só precisa ter grana, boa aparência e só.
Não precisa nem prestar. Você pode ser um mentiroso, suicida, psicopata, ladrão e seja lá o que for, desde que apenas “não pareça” com um meliante, mas só não pode ser “um liso”. Ter bom caráter, ser inteligente, esforçado, honesto e todas outras boas qualidades não nos servirão de nada, serão apenas balela, se você não tiver “bufunfa” e, o principal, não aparecer “desarrumado”.
Isso já fará de você uma “pessoa descente", com indivíduos ao seu redor dispostos a atestar seus “bons valores mais profundos”, mas, do contrário, se for um liso que a pé aí já complica sua vida social. Não importa se tiver uma moral ilibada ou a pessoa mais digna do mundo, logo atestarão uma falha no seu caráter, onde até o tipo de cabelo que você usa será usado contra você e, só pra tirar onda, algum enrustido pode até questionar sua masculinidade.
Sei não, mas considerar o TER como principal critério para ser um homem viável a uma “relação amorosa” me lembra um estabelecimento de bebidas e mulheres, onde a “madame" olha pra cara do freguês e diz:
- “Meu filho, é dinheiro na frente!”
Antigamente não era tão diferente. Uma boa condição financeira era uma exigência dos pais a constranger suas filhas, castas, a casamentos arranjados.
Hoje elas nem são castas e, graças ao Universo, não se constrangem com quase mais nada. Nada contra uma mulher com experiência – adoro-as, sem fazer perguntas sobre a origem de sua “maestria” em determinado assunto íntimo. O que vem ao caso é a fidelidade, não o passado. Todos, com mais de trinta anos, provavelmente têm, ou deveriam ter, muita história pra contar.
Infelizmente a palavra fidelidade está simplificado e atrelada ao fato de uma pessoa não estar simplesmente “trepando com outra”, que não seja seu par, no decurso do casamento. Embora que, nas redes sociais, certas criaturas, solteiras ou não, declarem, abertamente, o seu “tesão” por outrem, seja este famoso ou anônimo.
Atualmente "curtir" é a palavra-chave, mas, não raro, os pais ainda torcem pelas filhas, mesmo que o príncipe encantado delas já tenha esposa e filhos. Tendo nome e grana está tudo certo.
Desmanchar casamento alheio é só um detalhe, pois família, para alguns mortos de fome, só tem que ficar bonito no discurso e nas fotos de final de ano.
E como em toda boa novela, a “outra” (ou o outro), talvez por ser pessoa bem afeiçoada e de família bem abastada, vira par romântico ideal. O cônjuge traído, sacaneado e sabotado (muitas vezes pela própria família de seu par) vira o antagonista ou a “bruxa má da linda história de amor”. É, meus amigos, nós cristãos aprendemos rápido com a ficção das telenovelas.
O que escrevo agora pode soar até careta, antiquado, mas entregar-se à intimidade (sexual) para obter sustento, geralmente é "papel de puta", daquelas que dizemos ser “mulheres de vida fácil”. A diferença, talvez, seja que a profissional do sexo se submeta a vários homens, mas elas dizem ao que vem, deixando-nos cientes do que se trata:
- “São apenas negócios!"
Já certas “moças de família”, às vezes, se submetam a apenas um homem em prol de seu conforto, pelo menos até o dia que esta sinta necessidade de um carinho recíproco ou pelo menos parecido com o que ela realmente gostaria de ter.
E aí acabe procurando aventuras pra suprir “aquele desejo” que ela confidencia para sua melhor amiga, o famoso “vazio sem explicação”. Então começam as mentiras, as dissoluções, que, por sua vez, gerarão outras mentiras.
E, do outro lado, o companheiro que certamente sentirá a diferença no trato, na monotonia, de sua esposa a dizer-se afetada por uma enxaqueca quando for solicitada ao tálamo. Coração descomprometido, mesmo que casado no papel, é lacuna que pede por preenchimento, é espaço que grita: "há vagas!" – e deste descompromisso nasce a traição.
E toda estrela insatisfeita com o seu papel, não podendo recusar o personagem, interpretado no dia a dia, certamente irá exigir melhor cenário, figurino e cachê. E se a “firma-marido” quebrar ela vai embora mesmo, é a primeira a abandonar o barco que está a pique – que nem um rato. Se bem que esta já vivia sonhando em se agarrar com salva-vidas bonitão à beira mar, nem que seja para brincar de "SOS Malibu" por apenas uma noite.
Geralmente, em meio a certo teor misandria[1], é geralmente atribuído ao homem, toda culpa, pelo fim da relação, mas estão aí as Varas de Família que não me deixam mentir que as coisas andam em pé de igualdade – neste quesito, mas é redundante dizer que todo erro começa na sua origem – o motivo das escolhas que fazemos, pois escolher o companheiro(a) por motivos e razões superficiais é maior roubada. Pior ainda quando nem se escolhe, mas apenas somos compelidos a interpretar um papel que o destino nos impõe através de outros maus aprendizes da vida. Outros podem até influenciar nossas escolhas ou até mesmo escolher por nós, a vidas que iremos levar, mas, no final das contas, quem vai sofrer sozinho, com tais decisões, somos apenas nós mesmos. E estes, no máximo, passarão a mão sobre nossas cabeças só para terem o prazer de nos chamar de coitados.
Sou grato pela família bem estruturada em que nasci e, hoje, também sou pai de uma menina de apenas cinco anos. Ela, um dia, se tornará uma bela jovem e certamente encontrará o seu par. E os critérios, que espero que ela abrace, sejam de encontrar um homem honrado e leal, que assim como seu pai, seja fiel aos seus princípios. E este, a quem ela escolher (que também a tenha escolhido) não seja apenas o provedor abastado a garantir-lhe luxo ou sustento, mas seja um companheiro e não um cachorrinho que enterra mentiras dele e dos outros como se fosse o cocô que faz na vida alheia.
Às vezes me pergunto por onde anda o AMOR, pois o que vejo, hoje, é a completa inversão de valores familiares. Valores a serem esquecidos diante da mera aparência e satisfação social – E os pais? Estarão impotentes ocupados demais com seus próprios problemas e bebendo cultura de massa pela TV?
Sempre nos lembramos de atirar pedras nas velhas prostitutas, nos homossexuais e em tudo que seja inaceitável à nossa bela sociedade moralista, cristã, arrotando padrões em beira de calçada. Onde até uma tatuagem, um homem de cabelos longos e que use um brinco, pode ser motivo de escândalo, mesmo que ele honre as calças que veste. Contudo, abraçamos outra versão discreta do mesmo "comércio humano", que nem chega a ser moderna, mas apenas velada e renovada; a Neo Prostituição Familiar com o consenso de todos. Porém, esta é apenas minha opinião!
É minha opinião, também, quando digo que hoje é mais fácil levar uma mulher pra cama, do que levá-la ao altar, ou a um relacionamento estável, pois por mais que um raro homem lhe abra o sincero coração, estas abrem, primeiramente, o par de membros inferiores. E os parentes destas apenas cochicham:
- “Cadê a grana desse folgado?”
E se o cara não corresponder às expectativas de todos (parentes, aderentes, amigas e ex-pareceiro), este terá sua vida amorosa dificultada, pois o indivíduo tem que ter “algo mais” para os parentes e amigos de sua companheira baterem palmas, assobiar e contar vantagens. E toda atitude constante é questão de prática e costume. Chega a ser automático o interesseirismo a permear certas escolhas temperadas e com certa dose de promiscuidade. Com isso diremos:
- “Promiscuidade’ é uma palavra pesada!” – Então, vide o dicionário e, talvez, nos encontremos entre as linhas do “Pai dos Burros”, se, também, olharmos a semântica do verbo “cafetinar”.
Parece que não aprendemos o que é AMOR nem por definição, como bons "analfabetos sentimentais" que somos. Tratamos os nossos relacionamentos com leviandade. E, o que deveria ser amoroso, tratamos como um negócio de “empurroterapia dos arranjos sociais”, ou como mera satisfação de sensações, vitrine para os outros olharem, um impulso passageiro, o cio da juventude que nos fará gozar e continuarmos vazios. E isso não é só idiota, mas é frustrante também.
Há quem diga que o amor sincero quase não existe e muitos outros afirmam, com todas as letras, que a "família é uma instituição falida", que o negócio é “curtir o momento” e só, mas o que se percebe são os extremos. Mas seriam extremos ou apenas dois lados opostos, paralelos e vizinhos, da mesma moeda?
Na enfática redundância, de um lado da moeda os "desacreditados e ambiciosos" e do outro lado os "cegos e sonhadores". Enquanto isso nada se resolve, pois ambos andam apenas a procura de sua “tábua de salvação” – seja de suas finanças ou de sua solidão.
Talvez este pensamento explique o motivo que tantas uniões se desfaçam e, em contraste, nunca se viu tantas pessoas bem sucedidas que voltam para suas casas sozinhas, mesmo depois da balada onde estavam acompanhados e ainda deram aquela esticada no motel.
Hoje, o normal, é que um relacionamento não dê certo, pois somos habituados a sermos homens e mulheres de curtição, somos apenas para uma noite e nada mais. E amanhã, seremos amigos, ou estranhos, como bons seres caninos felizes. Mas esta é apenas a minha opinião e, sendo assim, ouso dizer que ainda acredito na importância fundamental de uma família bem estruturada, principalmente no quesito emocioal. Ainda acredito no amor. E meu amor não está à venda, pois o respeito que tenho por meus sentimentos é raro e não tem preço. Embora que observando o testemunho prático de alguns ditos “bons cidadãos”, que conheci, tem-se a impressão que dinheiro compra até amor verdadeiro.
Acredito que isso é um reflexo desta nuance social, onde valemos apenas pelo que temos em nossos bolsos, somos tratados pelo que vestimos, onde o caráter é proporcional a algo novo de duas ou quatro rodas. E que Deus só é Deus apenas onde Ele mora – “lááááááá no Céu”, mas aqui, no planta Terra, os “seus filhos” servem a outros três deuses, a superar sua influência divina, mas não sua popularidade, que é apenas da boca pra fora.
Sabem quais são estes deuses? Seria a ‘Sagrada Família’ ou a ‘Santíssima Trindade’? – claro que não! São eles: o TER, o PODER e o PRAZER.
E somos incentivados a servi-los desde o berço. E os que mais rapidamente negam a existências destes, por já terem a sua resposta pronta na ponta da língua, sem ponderar, são estes os que mais os servem.
Eu ainda acredito, mas não na “forma televisiva” de amar, mas nos bons princípios e não nas cores das falcatruas sociais e na piedade falsa imposta pelos falsos religiosos profissionais e domésticos. Acredito que se ama com a cabeça, com o cérebro, e não com o coração. A minha mente não é aberta – é arejada. A minha inteligência, a minha educação e o meu discernimento são os leões de chácara do que sai e, principalmente, do entra em minha cabeça pelos meus olhos e ouvidos, pois “sou teimoso e sincero, insisto em ter vontade própria...” – assim como dizia, de si mesmo, o grande poeta, Renato Russo.


[1] Misandria é a repulsa, desprezo ou ódio contra o sexo masculino. Esta é uma forma de aversão patológica aos homens, enquanto gênero sexual, sendo considerada o oposto da misoginia, que é o sentimento de repulsa e ódio pelo sexo feminino.

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