A ARTE DE APRECIAR E OUVIR SEM FAZER JUÍZO DE VALOR
Por Carlos Henrique Musashi, Aracati, 24 março de 2017.
“Examinai
todas as evidências, retende o que é bom. Afastai-vos de toda a forma de mal.” [I
Tessalonicenses 5:21-22]
Na literatura cristã, Paulo, apóstolo do Cristo,
em uma de suas famosas admoestações, nos aconselha a "reter o que for bom e dispensar o que não for".
Já imaginou se você ou eu fôssemos apreciar uma
música, uma peça de teatro, ir a uma galeria de arte, ouvir uma palestra, ou qualquer outro evento
cultural, levando-se em
consideração o detalhe da vida pregressa do protagonista de tal
exibição ou evento?
Nós não aceitaríamos ver uma tela do famoso
pintor maluco que cortou a orelha (Van Gogh), ouvir alguns dos grandes nomes da MPB, nem
de forró, nem
de música gospel e nem de outro
ritmo. Nem
leríamos a maioria dos livros que conhecemos.
Nem aceitaríamos o estender da mão de um conhecido e, possivelmente, nem a nossa ajuda seria aceita e nem nossas palavras seriam ouvidas ou
respeitadas pelo mesmo motivo.
Julgar, desmerecer,
toda
vida de uma pessoa por conta de um detalhe na trajetória ou vício
(...)
é algo imbuído do maior câncer que se pode ter – o orgulho, o "câncer da alma".
Até nós seríamos pegos nessa "peneira". Pois, em algum momento, agimos de forma
nociva para nós mesmos ou a outrem. Nestes momentos
vem a
minha memória a parábola
do
Fariseu e o Publicano:
Dois homens subiram ao templo para
orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava em seu
íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não
sou como os outros homens: roubadores, corruptos, adúlteros; nem mesmo como
este cobrador de iii. Jejuo duas vezes por semana
e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.
Entretanto, o publicano ficou à distância. Ele sequer ousava olhar para o céu,
mas batendo no peito, confessava: ‘Ó
Deus, sê benevolente para comigo, pois sou pecador’. Eu vos asseguro que
este homem, e não o outro, foi para sua casa justificado diante de Deus.
Porquanto todo aquele que se vangloriar será desprezado, mas o que se humilhar
será exaltado! [Lucas 18:9-14]
Redundante
seria explicar a citação acima retirada do Evangelho, tão clara, dispensa dizer
do contraste da arrogância do “justo” e, respectivamente, a humildade do declarado
pecador. Olhando assim podemos nos
encontrar nesta condição de “justos farisaicos” em nossa pressa de instantaneamente
julgar e condenar sem oitiva e sem a devida competência, mas nos achamos na
universal jurisdição de assim procedermos, principalmente nas redes sociais
onde já foram principiados atentados a vida e a moral de pessoas comuns. Como já
disse, em outro livro:
Nada
contra o WhatsApp, que é mais uma ferramenta ágil de comunicação que uso para
meus negócios e comunicação urgente, mas não me apego a aquele “mi-mi-mi”
desenfreado. E quando estou tomando minha cervejinha gosto de falar com gente
que esteja perto, sentados a mesma mesa, dentro da mesma conversa presencial.
Também não considero o Facebook uma coisa do mal, um “instrumento do demônio”
como afirmam os "crentes" mais afoitos. Uma faca, uma pá, o próprio face, por
exemplo, são apenas ferramentas em seus termos. O problema está em quem faz uso
errado destas. Até uma linda rosa, em mãos dolosas, pode ser um instrumento
para fazer o mal. [Prosa Crônico - Axiomaticamente Amigo]
Não por culpa
da tecnologia, mas a evolução tecnológica ainda não nos atingiu em nossa evolução
pessoal/humana. Ao invés disso, mediante a ausência atrevida (ao falar de
longe), nos deu “combustível” para o nosso preconceito covarde. A violência se
atenuou pela materialização de nossos pensamentos mesquinhos, principiando pela
violência de nossas palavras de nossa mentalidade involuída em julgar de
maneira tão promíscua - sem critérios. Lembre-se que vício é o contrário de virtude e, vício, não se limita apenas ao uso constante de substancias tóxicas ao nosso corpo, mas fofocar, falar mal, fazer "juízo de valor" sem conhecer, rotular, gula, ódio, avareza, infidelidade e outros maus costumes a que todos estamos sujeitos, também são vícios, mesmo que nós possamos fazê-lo sem consumir nenhuma substância prejudicial ao organismo.
Existe uma fronteira muito tênue entre o egoísmo
e o amor-próprio. Existe um perigo inerente de confundirmos facilmente este
"solisticismo" com o "saudável respeito que temos por nós
mesmos". Isso nos outros, porque, em nós, não enxergamos nada de errado. E
na pressa de sermos justos, imbuídos de nossas paixões e ideologias, esquecemo-nos
de ser caridosos e exercer nossa tolerância. E “tolerância é você dar aos outros seres humanos todo o direito que você
reivindica para si mesmo”, mas alguns ainda acham que tolerância tem apenas
que partir de terceiros, na obrigação de acatar, aturar e gostar de suas
ofensas. Mas, infelizmente, temos que lidar com o fato de que tacanhos
convictos são tão resistentes em receber e aprimorar educação comportamental,
(civilidade), quanto um alcoólatra é resistente à anestesia local.
E mesmo nós, que não nos consideramos tacanhos, temos nosso momentos de chatice, mas que sejam
apenas momentos de nossa fragilidade humana e não uma constante atitude. E tudo
que podemos fazer é ser tão pacientes com os momentos alheios o quanto
gostaríamos que os outros fossem conosco em nossos momentos de chatice, mesmo
que isso não seja reciproco.
Sejamos donos de nossa paz e não permitamos que
outros determinem nosso comportamento por meio de meras provocações. É só
lembrar-se do que diz em Provérbios 26:4 e 11: “Não
respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças
semelhante a ele (...). Como o cão torna ao seu vômito, assim o tolo repete a
sua estultícia.”.
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