Os três tipos básicos da falsa “boa educação”, por Carlos Henrique Musashi


3 tipos básicos da falsa “boa educação”,

por Carlos Henrique Musashi




               O que vem a nossa mente quando falamos de “boa educação” ou quando descrevemos uma pessoa “bem-educada”? De forma geral e lógica atribui-se tal adjetivo “a pessoa que se educou”, a aquele indivíduo que “recebeu educação” ou, meramente, que “recebeu ensino formal” ou ainda a aquele que expressa cortesia, delicadeza e que sabe se comportar levando em consideração as convenções sociais, ou seja, é “aquele que é civilizado”.

           Bem, essas são características vagas que atribuímos a determinada pessoa, em dados momentos, em sua interação social quais percebemos. No entanto, no entendimento deste sofrível autor, a EDUCAÇÃO que é fruto do amor que ouvi, que respeita e acolhe diferenças, para que a pessoa educada possa prevalecer sobre suas dificuldades onde a educação recebida seja capaz de edificar, seja uma ponte para a verdadeira liberdade e jamais edificando “muros”, barreiras sociais como o preconceito mediante um comportamento esnobe. E esta demonstração de civilidade deve, no mínimo, ser sincera no real sentido da palavra sinceridade, sem arrogância, sem desmerecer aos menos ou mais favorecidos independentemente de cor, credo, gênero…, mas de maneira diplomática e não fingida, pois a educação fingida não constrói pontes, elas servem apenas de escada para certos objetivos sociais mesquinhos. E esta educação “escada” é o que podemos chamar de “falsa boa educação”. Vejamos três tipos básicos desta:

 

  • Tipo conveniente: a pessoa reserva suas “atitudes educadas” por convir que seus modus operandi com outrem que, mesmo com quem não considera, possam trazer problemas com indivíduos (ou grupo) que, para o interesseiro, tem relevância social (patrão, superior, sócio); usando de “bons modos” com o intuito de passar despercebido ou granjear algo para si, nem que seja apenas atenção, pois ela está ligada a alguém que este considera importante, não pela pessoa em si. No entanto, se a pessoa com que “trate” for considerada, por este, “insignificante”, não a tratará da mesma forma, revelando sua real “educação”, sem máscaras, com pouca ou nenhuma gentileza qual dispensa àqueles qual acha que “precisa” bajular;

 

  •  Tipo colonizadora: o colonizador… Este que, seja em seu próprio lar e/ou casa alheia, gosta de “reconfigurar” e renomear o que não é seu agrado para adaptar-se às suas necessidades e caprichos, mesmo que em desrespeitoso desfavor do direito alheio. Mas geralmente usa de sutileza; este é parecido com populista[1], o ato de “ser gentil" com os mais “simples” (ou não) para usufruir de seus préstimos, favores, com a cara de pau e o papo-furado de um invasor, que não quer sua amizade ou, realmente, saber de você, esta quer apenas que você seja útil de alguma forma e/ou quer convencer você de algo, não respeitando suas opções ou convicções, embora demonstre ser um “poço de gentileza” ao tempo chega a ser uma pessoa um tanto invasiva – e não basta ser falso, tem que falar pegando, ou alisando, ou dando tapinhas nas costas e etc.;

 

  • Tipo seletiva: é aquela história de “só sou legal com quem eu quero” – claro, está no seu direito, mas, neste caso, quanto mais importante a pessoa, mais o indivíduo seletivo é gentil ao tempo que despreza (ou ridiculariza) aquele que considera de menor relevância social ao seu círculo de amizades e interesses; aqui o indivíduo é “tarifado”, há comparações de relevância, mas o “seletivo” voltará a ser gentil, com aquele que desprezou, quando (ou se) precisar dela novamente, mesmo que seja para fazer volume nas atividades sociais que promove. É apenas mais outro tipo de pessoa interesseira que parece que tem memória curta, pois esquece da maneira como trata as pessoas, para este, irrelevantes e, geralmente, é esnobe[2].

 

                  Existem outros tipos genéricos de “falsa boa educação”, mas estas, supra, são as mais recorrentes que, pelo menos, os tipos que mais percebo em minhas atividades sociais, ao longo de minha caminhada, procurando entender meu semelhante nas minhas interações sociais. Vale salientar que a verdadeira educação é constante, é lato sensu[3], como se obedecesse, por sua natureza, ao Princípio da Universalidade – tratar sem o outro “sem qualquer tipo de discriminação”, pois a educação não coisifica e nem se locupleta de valores sociais, porque ela é gratuita e espontânea.

 

Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'. Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E, se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês. [Evangelho de São Mateus 5:43-48]

 

            Educação é questão de hábito, do costume em praticá-la – sabe-se disto! Mas o que não se assimila com facilidade, insisto, é que ela, a educação, é Lato Sensu e não Stricto Sensu, embora que, para o "educado-celetista", ou mero puxa-saco, ela pode ser até um “serviço Uti Singuli de luxo”, quando na verdade a educação para ser uma ponte “útil” para todos os transeuntes de nossa vida, sem barreiras ou pedágios, ela deve ser Uti Universi.[4] Em termos simples, podemos dizer que a verdadeira educação não é aquela em que um indivíduo se esmera em praticar em situações pontuais e com determinado indivíduo ou grupo com os objetivos já mencionados, pois quando se é realmente educado se é educado com todos, pois tal educação flui de maneira natural pelo costume e não pelo autopoliciamento diante deste ou daquele. Aquele que se policia apenas em determinadas situações costuma “relaxar” vertiginosamente em ser desagradável com outrem. Saibamos que nossa educação é tão boa quanto o nosso pior comportamento quando não há ninguém de nosso interesse nos observando. Educação não é fingimento, pois sendo ela “uma moeda de ouro que em todo canto vale”, tem o condão de abrir portas, mas o fingimento gera decepção ao ser descoberto.

              A inocência feudal[5], sobre a verdadeira educação, que muitos ainda conservam, é achar que ela é adquirida, gradualmente, em cada qualificação secular; e, quanto mais renomada a instituição de ensino que a promoveu, proporcional ao poder aquisitivo auferido por tal indivíduo de “cor e família certa”[6], como título de nobreza adquirido em berço, e não o fruto de pequenos esforços pessoais de superar a si mesmo e não a outrem – tredo engano! Também superestimamos a educação das pessoas “viajadas”, pois não adiantaria visitar cada canto do mundo se nosso universo está restrito ao próprio umbigo. Seria como ir ao velório de um total desconhecido, que morreu de causas naturais, e fingir um sentimento de indignação diante daquilo que, na verdade, não compreendeu o sentido, mesmo que entre lágrimas que, certamente, são forçadas. Na verdade, apenas fomos, por curiosidade, talvez, ou apenas para dizer que estivemos lá, mas, no final, a nossa presença foi apenas insignificante, pois não acrescentamos em nada, a não ser em contingente.


           O referido poder, para este ou aquele, confere apenas o deslumbre pelo já alcançado, um vislumbre daquilo que gostariam de ser e/ou ter, mas a insatisfação contida na alma se revela na incontinência das palavras e outras atitudes ao lidar com aqueles que consideram “inferiores” a si, segundo os próprios pobres conceitos, onde abusam dos tipos básicos de “falsa boa educação”, qual se confundem em meio a gestos de pseudo-generosidade expostas pra tentar afugentar carências morais em detrimento da própria ética demostrada em pequenos grupos sociais e seus rompantes de moralismo, ao tempo que tal indivíduo pomposo, porém simplório, mas de “bom nome”, não se constrange em fustigar “discretamente” a moral daquela figura, não querida, qual tem por “irrelevante”, mas que está à mesa por um parentesco ou outro vínculo, mas que se lá, tal pessoa não estivesse, todos estariam em paz – no que consideram subjacentemente um equilíbrio social.

             No dia que cada ser humano entender, profundamente, a função social da educação, não apenas nossas interações sociais seriam mais profundas e amistosas e menos irritantes e superficiais. Acredito que até nosso conceito de “caridade” (embotado de elitismo hierárquico) mudaria radicalmente, pois preferiríamos chamar de colaboração, pois a humanidade evoluiria de tal maneira que certas mazelas sociais sumiriam juntamente com a violência, em todas as suas vis modalidades, que é o oposto da boa educação.

          Não espero que “cães de guarda” entendam isso, pois eles precisam da desordem para se sentiram “úteis a sociedade”, assim como um “pregador picareta” precisa do satanás pra manter as portas de sua igreja abertas.



[1] Implica em sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia daquelas. Na política pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de governar.

[2] Diz-se do indivíduo que se sente superior aos demais, desprezando o convívio com quem é humilde e, geralmente, copiando os hábitos dos que têm prestígio social ou dos que fazem parte da alta sociedade, embora não o seja nenhuma coisa e nem outra.

[3] Stricto Sensu: significa “em sentido limitado” e Lato Sensu: significa “em sentido amplo”.

[4] Analogia: serviços Uti Singuli são os serviços públicos individuais e os serviços Uti Universi são os serviços públicos gerais (uso de todos). As expressões supramencionadas são geralmente utilizadas no âmbito do Direito Administrativo; referem-se à prestação de serviços públicos do Estado à população.

[5] Referente Feudalismo, a forma de organização econômica e social vivenciada na Europa Centro-Ocidental durante o período histórico conhecido como Idade Média, entre os séculos V e XV. O nome é derivado dos feudos (ou vilas), as unidades de habitação e produção que eram características do período.

[6] Menção ao racismo e elitismo concomitantemente velados.






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