"Passos na Dança da Vida: Erros, Acertos e a Arte do Casamento"



"Passos na Dança da Vida: Erros, Acertos e a Arte do Casamento"

Por Carlos Henrique Musashi — Aracati, em 08/03/2024

                "Quem é casado há quarenta anos com dona Maria 
não entende de casamento, entende de dona Maria. 
De casamento entendo eu, que tive seis." [Chico Anysio]

       A vida, como uma complexa equação da matemática quântica, nos apresenta erros como desafios a serem superados. Cada erro resolvido nos torna mestres na arte do acerto, mas há um aspecto peculiar: persistimos em resolver e acertar mesmo após o erro, pois julgamos relevante essa busca incessante pela correção. É como aquela questão difícil que, após inúmeras tentativas falhas, finalmente dominamos e passamos a acertar sem hesitação. A existência é uma dança constante entre erros e acertos, um eterno aprendizado na escola da vida.

Tomemos o casamento como exemplo, uma das formas mais intrincadas de interação humana. A assertiva do saudoso humorista Chico Anysio nos alerta sobre a diferença entre quem compartilha quatro décadas de vida com uma pessoa específica e quem experimenta os desafios e as delícias de seis casamentos distintos. O primeiro pode entender de convivência com dona Maria, mas o segundo, talvez, seja mais hábil na arte do casamento em si.

Há aqueles que, ao longo de muitos anos, permanecem casados, alegando fidelidade e estabilidade. No entanto, se durante todo esse tempo, o cônjuge se esquiva de aprender com os próprios erros, culpando a parceira (ou parceiro) por suas falhas, então o casamento não é compreendido. Esse indivíduo não é um expert em relacionamentos duradouros; é, na verdade, um mestre na arte de enrolar, enganar e iludir. Lembra aquele tipo de “véi babão” que até hoje “seca as novinhas” e se gaba dos trinta e tantos anos de casamento onde a melhor coisa boa que realmente ele fez foi não atrapalhar o excelente trabalho de mãe e dona de casa de sua fiel esposa. Nos fins de semana, enquanto ele não parava em casa, ela cuidava da prole. Mas quando o “bonitão” chegava, queria que ela “cumprisse seu dever”, ao mesmo tempo que a convencia de que os “chifres” que ela levou foram culpa dela — coisa de narcisista.

Por ser devoto do materialismo, com o avançar da idade, percebeu finalmente que a única mulher que iria aturá-lo até o fim da vida seria aquela que, de fato, ele não respeita. Mas percebeu que é mais viável (inclusive economicamente) ficar com ela, que educou seus filhos, do que dividir patrimônio, revelando seu falto caráter. Afinal, ele precisa manter seu status de boa gente (vide “O Manual das Falsianes”). O único mérito dele foi ter encontrado uma mulher paciente que aguentou (ele) uma criança perene até a velhice.

Hoje, o pilantra se gaba da “excelente educação” material dos filhos e se dá o direito moral de colocar a própria família como exemplo de virtude, tendo ele como “o cabeça” (de vento). Aquele tipo de hétero top[1] que faz questão de dizer que “sustenta a casa” com seus dois expedientes. Mas a mulher, muitas vezes, estuda, trabalha e ainda cuida da casa. Mas ele é a estrela na conversa enfadonha, onde ele conduz e domina, e os outros escutam pela enésima vez a mesma história chata, interminável, repetitiva... O pobre só tem essa boa anedota para contar, se não for outra depreciando quem geralmente inveja.

Usei um homem como exemplo, mas há mulheres que aprontam também. Não sejamos misândricos[2].

Enfim... Enquanto a esposa (ou o marido) desempenha um papel significativo, muitas vezes sendo a força motriz por trás da família, o esposo (narcisista), habilidoso apenas em transferir responsabilidades, permanece estagnado. O verdadeiro entendimento do casamento implica em aprender com os erros, em participar ativamente da construção e da superação dos obstáculos que possivelmente se apresentará no caminho do casal.

A dança da vida prossegue, e o casamento, como uma coreografia complexa, exige passos precisos e harmonia entre os parceiros. O matrimônio não é apenas um contrato legal ou uma formalidade social; é um compromisso profundo que transcende o tempo e as convenções.

Imagine um salão de baile onde os casais se entrelaçam, giram e se desviam. Alguns passos são suaves e graciosos, enquanto outros são desajeitados e incertos. O segredo está em aprender com cada tropeço, em ajustar o ritmo e em manter a sintonia. Afinal, a dança não é sobre perfeição, mas sobre a jornada compartilhada.

Os erros, nesse contexto, são como pisadas em falso. Quando o marido esquece o aniversário da esposa ou quando a esposa deixa de valorizar pequenos gestos de carinho, esses deslizes não devem ser ignorados. São oportunidades para crescimento mútuo. O casamento não é uma competição para ver quem está certo ou errado; é uma colaboração para construir algo maior do que os indivíduos envolvidos.

O verdadeiro progresso acontece quando ambos os cônjuges se tornam estudantes da relação. Eles aprendem a linguagem não verbal, decifram os olhares e os silêncios. Compreendem que o amor não é apenas um sentimento, mas uma escolha diária de cuidar, respeitar e apoiar. Afinal, o amor não é um estado estático; é uma dança em constante movimento.

E assim, os anos se acumulam. Os filhos crescem, os cabelos embranquecem, mas o compromisso permanece. O casamento é como uma partitura musical, com notas altas e baixas, mas sempre com a melodia subjacente. Os erros se transformam em lições, os acertos em celebrações. E, no meio dessa dança, os parceiros se tornam mais do que simplesmente marido e mulher; eles se tornam cúmplices, amigos e confidentes.

Portanto, que continuemos a dançar, a aprender e a evoluir. Que os erros sejam oportunidades para aprimorar nossos passos, e que os acertos sejam momentos de gratidão. Afinal, a dança da vida é única, e cada casal tem sua coreografia exclusiva. Que ela seja repleta de amor, compreensão e alegria, e que os passos imperfeitos sejam parte essencial desse belo espetáculo chamado casamento.

 Mas quanto à frase de Chico Anysio, eu preferiria ser especialista em apenas uma, ter acertado, encontrado, na primeira vez que me casei por teimosia (ainda bem que não foi). Hoje, desejo ser um especialista naquela que, por ventura, venha a ser minha adjutora, onde sejamos complementares e jamais concorrentes. Agradeço a oportunidade e o aprendizado que tive nesta vida, pois tornei-me muito bom em certas matérias. No entanto, o aprendizado não é fácil. Quando as coisas são demasiadamente leves, a vida acaba produzindo o tipo de gente supramencionada neste texto.

"Deus sabe o que faz, a gente é que não sabe o  que diz".



[1] Hétero Top: Essa expressão é frequentemente utilizada para descrever um homem heterossexual que, eventualmente, pode adotar características ou comportamentos associados a uma postura dominante. Ela surgiu como uma gíria e foi inicialmente usada de forma irônica nas redes sociais. No contexto do Big Brother Brasil (BBB), alguns participantes a utilizaram para tentar explicar quem são, seja assumindo parcial ou totalmente esse estereótipo de homem que geralmente é inseguro e imaturo.

[2] Misândricos: Este adjetivo se refere a pessoas que manifestam aversão ou desprezo por indivíduos do sexo masculino. Em outras palavras, é o sentimento de hostilidade em relação aos homens. O oposto desse termo é misógino, que se refere ao ódio ou aversão às mulheres.





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