"Passos na Dança da Vida: Erros, Acertos e a Arte do Casamento"
Tomemos o
casamento como exemplo, uma das formas mais intrincadas de interação humana. A
assertiva do saudoso humorista Chico Anysio nos alerta sobre a diferença entre
quem compartilha quatro décadas de vida com uma pessoa específica e quem
experimenta os desafios e as delícias de seis casamentos distintos. O primeiro
pode entender de convivência com dona Maria, mas o segundo, talvez, seja mais
hábil na arte do casamento em si.
Há aqueles que,
ao longo de muitos anos, permanecem casados, alegando fidelidade e
estabilidade. No entanto, se durante todo esse tempo, o cônjuge se esquiva de
aprender com os próprios erros, culpando a parceira (ou parceiro) por suas
falhas, então o casamento não é compreendido. Esse indivíduo não é um expert em
relacionamentos duradouros; é, na verdade, um mestre na arte de enrolar,
enganar e iludir. Lembra aquele tipo de “véi babão” que até hoje “seca as
novinhas” e se gaba dos trinta e tantos anos de casamento onde a melhor coisa
boa que realmente ele fez foi não atrapalhar o excelente trabalho de mãe e dona
de casa de sua fiel esposa. Nos fins de semana, enquanto ele não parava em
casa, ela cuidava da prole. Mas quando o “bonitão” chegava, queria que ela
“cumprisse seu dever”, ao mesmo tempo que a convencia de que os “chifres” que
ela levou foram culpa dela — coisa de narcisista.
Por ser devoto
do materialismo, com o avançar da idade, percebeu finalmente que a única mulher
que iria aturá-lo até o fim da vida seria aquela que, de fato, ele não
respeita. Mas percebeu que é mais viável (inclusive economicamente) ficar com
ela, que educou seus filhos, do que dividir patrimônio, revelando seu falto
caráter. Afinal, ele precisa manter seu status
de boa gente (vide “O Manual das Falsianes”). O único mérito dele foi ter
encontrado uma mulher paciente que aguentou (ele) uma criança perene até a
velhice.
Hoje, o pilantra
se gaba da “excelente educação” material dos filhos e se dá o direito moral de
colocar a própria família como exemplo de virtude, tendo ele como “o cabeça”
(de vento). Aquele tipo de hétero top[1] que faz questão de
dizer que “sustenta a casa” com seus dois expedientes. Mas a mulher, muitas
vezes, estuda, trabalha e ainda cuida da casa. Mas ele é a estrela na conversa
enfadonha, onde ele conduz e domina, e os outros escutam pela enésima vez a
mesma história chata, interminável, repetitiva... O pobre só tem essa boa
anedota para contar, se não for outra depreciando quem geralmente inveja.
Usei um homem
como exemplo, mas há mulheres que aprontam também. Não sejamos misândricos[2].
Enfim...
Enquanto a esposa (ou o marido) desempenha um papel significativo, muitas vezes
sendo a força motriz por trás da família, o esposo (narcisista), habilidoso
apenas em transferir responsabilidades, permanece estagnado. O verdadeiro
entendimento do casamento implica em aprender com os erros, em participar
ativamente da construção e da superação dos obstáculos que possivelmente se apresentará
no caminho do casal.
A dança da vida
prossegue, e o casamento, como uma coreografia complexa, exige passos precisos
e harmonia entre os parceiros. O matrimônio não é apenas um contrato legal ou
uma formalidade social; é um compromisso profundo que transcende o tempo e as
convenções.
Imagine um salão
de baile onde os casais se entrelaçam, giram e se desviam. Alguns passos são
suaves e graciosos, enquanto outros são desajeitados e incertos. O segredo está
em aprender com cada tropeço, em ajustar o ritmo e em manter a sintonia. Afinal,
a dança não é sobre perfeição, mas sobre a jornada compartilhada.
Os erros, nesse
contexto, são como pisadas em falso. Quando o marido esquece o aniversário da
esposa ou quando a esposa deixa de valorizar pequenos gestos de carinho, esses
deslizes não devem ser ignorados. São oportunidades para crescimento mútuo. O
casamento não é uma competição para ver quem está certo ou errado; é uma
colaboração para construir algo maior do que os indivíduos envolvidos.
O verdadeiro
progresso acontece quando ambos os cônjuges se tornam estudantes da relação.
Eles aprendem a linguagem não verbal, decifram os olhares e os silêncios.
Compreendem que o amor não é apenas um sentimento, mas uma escolha diária de
cuidar, respeitar e apoiar. Afinal, o amor não é um estado estático; é uma
dança em constante movimento.
E assim, os anos
se acumulam. Os filhos crescem, os cabelos embranquecem, mas o compromisso
permanece. O casamento é como uma partitura musical, com notas altas e baixas,
mas sempre com a melodia subjacente. Os erros se transformam em lições, os
acertos em celebrações. E, no meio dessa dança, os parceiros se tornam mais do
que simplesmente marido e mulher; eles se tornam cúmplices, amigos e
confidentes.
Portanto, que
continuemos a dançar, a aprender e a evoluir. Que os erros sejam oportunidades
para aprimorar nossos passos, e que os acertos sejam momentos de gratidão.
Afinal, a dança da vida é única, e cada casal tem sua coreografia exclusiva.
Que ela seja repleta de amor, compreensão e alegria, e que os passos
imperfeitos sejam parte essencial desse belo espetáculo chamado casamento.
Mas quanto à frase de Chico Anysio, eu preferiria ser especialista em apenas uma, ter acertado, encontrado, na primeira vez que me casei por teimosia (ainda bem que não foi). Hoje, desejo ser um especialista naquela que, por ventura, venha a ser minha adjutora, onde sejamos complementares e jamais concorrentes. Agradeço a oportunidade e o aprendizado que tive nesta vida, pois tornei-me muito bom em certas matérias. No entanto, o aprendizado não é fácil. Quando as coisas são demasiadamente leves, a vida acaba produzindo o tipo de gente supramencionada neste texto.
"Deus sabe o que faz, a gente é que não sabe o que diz".
[1]
Hétero Top: Essa expressão é
frequentemente utilizada para descrever um homem heterossexual que,
eventualmente, pode adotar características ou comportamentos associados a uma
postura dominante. Ela surgiu como uma gíria e foi inicialmente usada de forma
irônica nas redes sociais. No contexto do Big Brother Brasil (BBB), alguns
participantes a utilizaram para tentar explicar quem são, seja assumindo
parcial ou totalmente esse estereótipo de homem que geralmente é inseguro e
imaturo.
[2]
Misândricos: Este adjetivo se refere
a pessoas que manifestam aversão ou desprezo por indivíduos do sexo masculino.
Em outras palavras, é o sentimento de hostilidade em relação aos homens. O oposto
desse termo é misógino, que se refere
ao ódio ou aversão às mulheres.
Comentários
Postar um comentário