🔥 Apenas o Ouro Fica

🔸️Carlos Henrique Musashi ✍️

Há um tipo de fogo que não destrói — revela.
Não é o fogo do espetáculo, nem o da pressa. É o fogo do tempo. O fogo que insiste. O fogo que dói.
O ouro não nasce pronto. Ele não se impõe pelo brilho inicial. Ele aceita o processo. Para existir como ouro, precisa ser acrisolado. Submetido a temperaturas que fazem todo o resto desistir.
O ferro se acaba.
As impurezas não resistem.
O que é frágil não atravessa.
E o ouro… permanece.
Há quem veja o sofrimento como punição. Eu aprendi a enxergá-lo como fornalha. Cada fase dura da vida foi, para mim, um acrisolamento. Não porque eu seja especial, mas porque o processo é o mesmo para todos — o que muda é o que cada um aprende enquanto queima.
A vida não pede licença quando aumenta a temperatura. Ela não explica. Não avisa. Apenas aquece. E, nesse calor, somos convidados a escolher: resistir ao processo ou permitir que ele nos transforme.
Quando se aprende, não sobra revolta.
Não sobra vaidade.
Não sobra excesso.

Só fica o essencial.

O acrisolamento não retira quem somos — ele remove o que nunca fomos. Ele separa identidade de ilusão. Vocação de expectativa alheia. Verdade de ruído.
Hoje, olhando para trás, não conto cicatrizes como derrotas. Conto como etapas de purificação. Cada dor foi um filtro. Cada dificuldade, uma peneira. Cada perda, uma retirada do que não precisava seguir comigo.
E é por isso que eu sou grato.
Grato não pela dor em si, mas pelo ouro que restou depois dela.
Porque, no fim, a vida não promete conforto.
Ela promete revelação.
E o fogo… quando cumpriu sua função… se apaga.
O ouro, não.

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