"O bicho puxa-saco", Por Carlos Henrique Musashi

 

"O bicho puxa-saco"

  Por Carlos Henrique Musashi , em janeiro de 2008.


O Babaovus-Terrestri[1] é um bicho de interesses, pequeno de alma e covarde de coração. Possui hábitos peculiares, principalmente quando não chegou onde gostaria, mas matem o mesmo hábito para se manter ou avançar na posição lograda. No entanto, não consistem, em via de regra, tais características, pois há entre os tais existem aqueles que, ao conseguirem ao algum poder de mando, se tornam imediatamente ditadores cara-de-pau, e geralmente sentem necessidade de ter, por perto, um da mesma classe, ou seja, alguém que lhes massajei o ego.

Já o bajulador-raiz, sendo leal a sua “subfunção”, embora fomente puxassaquismo, mas não admite concorrência na bajulação principal. Sendo bichos zelosos não permite que outros cheguem muito perto da pessoa ou grupo bajulado por medo de perder seu posto ou posição que não consta em nenhum edital e nem tem registro no CBO[2], pois exerce por autofilantropia.

Esse fenômeno acontece recorrentemente em repartições públicas ou privadas, sendo mais notório entre os indivíduos do mesmo grupo da Administração Pública direta ou indireta[3]. Mas também podemos encontrá-los em empresas privadas, igrejas com fins lucrativos, frequentadores de colunas sociais e entra aqueles que adoram “colar na elite” em seus eventos sócias/familiares onde desprezem os mais simples, adoram ser testemunhas oculares de milagres ou de fofocas de coisas que nunca viram ou se quer aconteceram e nem se que lhes dizem respeito.

Este animal condescendente, embora adore conforto de bolsos forrados e suas ações cheirem muito mal, mas este semovente não perece a infraclasse dos marsupiais e nem da ordem dos Didelphimorphia[4]. E por mais que pareça intrigante o bajulador ainda pertence à classe dos homo sapiens e, diga-se de passagem, estão entre os mais bem sucedidos de uma província ou estado, nem que seja apenas perifericamente exercendo o ato que lhes classifica como tal.

Esta criatura, além de ser uma forma de vida inferior de ações e reações, é do grupo que pratica o “comensalismo social”, assim como as rêmoras – aqueles peixinhos insignificantes que ficam agarrados ao tubarão comendo as migalhas sobejadas pelo predador maior. No caso do puxa-saco as migalhas são de atenção, oriundos do “senso de importância condicionada”, pois não sabem se sentir importantes quando estão sozinhos, mesmo que seja apenas na companhia de alguém com que possa se gabar de suas “amizades”.

Este animal medíocre, de tão abundante espécie, no século XX, antes do ápice dos sites sociais (Facebook e Instagram) no século XXI, tinham como “habitat” natural as colunas sociais em festa da alta sociedade, em comícios – sobre ou ao pé do palanque, gabinetes, e de vez em quando uma mídia (rádio, TV, jornal, revistas), isso quando não viviam dela, por ela e para ela.

Entretanto, sempre poderemos encontrá-lo agarrado ao saco de alguém de expressão social e financeira, pois adora tirar fotos agarrado no pescoço de alguém, mesmo que seja do mesmo sexo, por ter o objetivo de vida: “sair bem na foto", mesmo que seja como papagaio de pirata. Os mais calmos desta espécie são mais contidos, não aprecem muito, por serem mais tímidos, mas basta tomar umas biritas para falar de suas predileções sociais camufladas com lições de moral.

São capazes de lembrar nome, sobrenome, título e função de pessoas importantes que acabaram de conhecer e nunca as esquecem. Quando se lembra das mesmas acrescentam o prefixo “meu amigo”. (Exemplo: “meu amigo Dr. Fulano de Tal” + função ou título). Mas parece ser incapazes lembrar seu nome, mesmo que já conviva com você há anos chamando você de “psiu”, “meninin”, “ei”, “coisinha” ou outro substantivo/pejorativo. Não que seu nome seja de difícil pronuncia, mas, comparado o de “pessoas graúdas”, seu nome seja considerado insignificante, pois você não é alguém que mereça ser bajulado. 

O bicho puxa-saco, adora viver à sombra da fama dos outros, nem que seja de um filho, aderente ou parente distante, pois além de ser um bicho elitista, às vezes, não tem personalidade própria, por isso tem que estar atrelado à subserviência para granjear alguma atenção. Esse ser nunca entra em extinção, pois tem gente que gosta de ter um desses aos pés por achar isso “in” e não "out".

Essa espécie não é protegida pelo IBAMA, a não ser que tenha um parente por lá também. No entanto, nem precisa, pois dizem, figuradamente, que ele tem as “costas largas” embora seja um tremendo bundão.

Caros leitores, esse bicho é perigoso, por mais que se mostre inofensivo, simpático e sorridente, pois ele geralmente é falso. Mas pode se tornar agressivo quando se sinta ameaçado por alguém de amizade sincera ou que realmente tenha talento útil a uma relação empregatícia que, por ventura se aproxime de seu bajulado. Nestas situações tal bicho vai usar de vantagem proximal com valentia e criatividade de um fofoqueiro mor, embora seja facilmente vencido com a verdade – mesmo que tardia, ao revelar suas reais intenções, pois a força do bajulador está na sua conversa sempre fiada.

Desmascarado ou não este muda radicalmente de comportamento e de dono conforme o ambiente, pois é capaz de trair, de “morder até a mão de quem o alimentou” para atingir seu objetivo. Até porque hoje ele pode se dizer seu amigo fiel e a amanhã nem lembra que você existe ou pior. Caso a pessoa tenha confidenciado algo particular, este não hesitará em revelar confidências como prova de fidelidade ao novo bajulado.

E por último, afirmo que assim como um vírus, o puxa-saco é algo nocivo aos mais suscetíveis, atacando com os mesmo sintomas e características citadas ao longo do texto. Cuidado, livrem-se dos bajuladores, prefiram pessoas autênticas, que digam o que você necessita ouvir e não o que você gostaria. Prefira a companhia de gente que preze por sua amizade e não sua posição social.

 

“Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te avisem quando você erra.” [Barack Obama]




[1] Apelido pseudocientífico atribuído pelo autor, por animus jocandi, ao puxa-saco.

[2] CBO - Classificação Brasileira de Ocupações.

[3] A administração direta é composta pelos órgãos diretamente ligados aos entes da federação: União, estados, Distrito Federal e municípios. Administração indireta é composta por autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista naturalmente sujeitos ao controle do Estado.

[4] Assim como os gambás ou cassacos.

Comentários

Postagens mais visitadas