Por que hoje acredito que de alguma forma existimos depois da morte do corpo físico? Por que acredito no “sobrenatural”?

 

Por que hoje acredito que de alguma forma existimos depois da morte do corpo físico? Por que acredito no “sobrenatural”?

 


Por Carlos Henrique Musashi – Aracati, em 19 de janeiro de 2022.


Desde que me entendo por gente, sempre questionei pessoas que contassem histórias de experiências com o sobrenatural; até mesmo quando eu era um religioso convicto. Confesso que até olhava com certo desdém e desprezo quando alguém se dizia “meio que atormentado” por situações ligadas ao “espírito de pessoas desencarnadas”, mas que estavam ali presentes em seu cotidiano – assombrando-as.

Na minha fase religiosa, contraditoriamente, para acreditar em algo, eu precisava de provas concretas, pois “apenas fé” no Deus invisível não era o suficiente para acreditar em manifestações espirituais. A crença na minha religião de batismo, bem como na denominação religiosa à qual abracei posteriormente de forma quase sectária, não me permitiam dar credibilidade a tais eventos. Depois de minha total descrença na espiritualidade e afins, tendo me tornado um completo ateu (por conta de graves decepções promovidas por certos escândalos) estas provas, sobre espiritualidade, deveriam ter, no mínimo, algum embasamento científico, pois testemunhos eram apenas “histórias de Trancoso” e os fatos eram apenas truques da mente.

Bem... As primeiras provas que tive sobre a existência (do que duvidava) vieram antes da possível explicação científica, foi por meio da minha primeira experiência com o sobrenatural que “dei real atenção” e, diga-se de passagem, não foi nada boa... Vamos dizer que é bem mais fácil digerir algo quando se tem fé no invisível; quando se é um total descrente tudo é bem mais assustador por se juntar ao fato de nossas convicções e arrogâncias caídas sob os pés da realidade... E não há outro caminho a não ser o da humildade de recorrer à ajuda daqueles que olhávamos com desdém e desprezo.

 Quando falo em “dar real atenção”, quero dizer que houve outras experiências que quase ignorei, mesmo sendo um adolescente, por achar irrelevante o fato de um confortável cobertor qual me agarrava durante um sono tranquilo ser puxado rispidamente em direção aos meus pés até ficar ao chão — eu dormia sozinho. Considerei que havia esticado tanto o lençol que ele havia “eslingado” quando estendi as pernas. Fiquei cismado, pela manhã, tentei repetir a experiência me cobrindo e esticando as pernas para tentar reproduzir o “efeito estilingue”. Tentei várias vezes, até em outras oportunidades com outras cobertas, mas sem resultado. O máximo que consegui foi deixar meus pés descobertos ou quase rasgar o tecido. Para tal efeito as cobertas deveriam ter bastante elasticidade, coisa que nenhum lençol possui — pelo menos não os que testei.

Antes desta tive outras experiências, ainda menino.  Numa certa tarde adormeci no sofá da sala. Estava brincando com meus Playmobil. Foi depois do almoço; acabei cochilando encostado no braço do estofado. Ao despertar lentamente de minha sesta, ao abri meus olhos, vi, por uma fração de segundos, o que parecia ser uma figura feminina, rosto afilado, cabelos longos e escorridos, completamente albina, com o rosto a uns trinta centímetros do meu, como se esticasse da lateral do sofá para observar diretamente o meu rosto.

O sono foi tranquilo, mas o desperta, depois desta visão, foi um pulo e um alívio ao perceber que “não havia ninguém me observando” – olhei até embaixo do sofá pra ver se o cachorro não estava deitado por lá e, de repente, poderia ter sido ele que estivesse lá comigo e o acabei confundindo com outra coisa, mas eu estava “sozinho” na sala.

Ainda garoto, tive três sonhos confusos e assustadores com uma amiga da família que havia falecido recentemente em um acidente de trânsito juntamente com todos os outros passageiros. Todos eram colegas de trabalho de meus pais.

Nos dois primeiros sonhos via a figura da pessoa dela em meio a um enredo qual não compreendi e no último se apresentou em forma de uma grande bola de luz. Esta jovem senhora deixou um filho pequeno e o marido. Apenas no último sonho entendi que ela queria que eu protegesse seu filho, que eu desse “uma olhadinha nele”, mas eu era apenas um garoto, mais velho que o filho dela e não entedia como poderia fazê-lo. Mas, para todos os efeitos, foi apenas outro sonho estranho e mais nada.

Algum tempo depois descobri que o filho dela estudava no mesmo colégio que eu – Marista de Aracati. Um dia, depois de uma prova bimestral, sentei-me no banco da Praça do Marista. Não muito distante havia uns meninos fardados fazendo uma algazarra e, ao observar, percebi que estavam cercando e maltratando um possível colega de sala, um garoto franzino e menor do que eles. Eram uns quatro ou cinco meninos praticando o que nós, hoje, chamamos de bulling. Minha ação foi levantar do banco e intervir. Cheguei bem perto e os repreendi dizendo que iria comunicar à direção do colégio se não deixassem aquele garoto em paz.

Eles foram se afastando e eu continuei os encarando para ver se não iriam voltar. Só depois dei atenção ao garoto que era justamente o filho da “amiga falecida” de meus pais. Falei com ele um pouco pra ver se ele estava bem e segui meu caminho. Mas sempre que possível o observava, de longe, nos corredores durante os intervalos. Só depois me lembrei do sonho e foi impossível não associar uma coisa a outra, mas resolvi acreditar que foi apenas uma coincidência.

Houve outras situações “sobrenaturais”, elas sempre aconteceram, sempre estiveram lá... Da xícara Duralex que “explodiu abafadamente” ainda pendurada, guardada em seu suporte, restando apenas uma finíssima camada de poeira e a asa pendurada ainda no ganchinho de metal. Da pessoa (vulto) que “pensei ter visto” entrar em casa ou em determinado cômodo, mas ninguém as viu e nem se sabe como saiu; do que chamei de “brincadeira chata” onde botei a culpa no meu irmão por ter “me suspendido pelas pernas” bem tarde da noite onde, atordoado, apenas protestei e olhos fechados e voltei a dormir – hoje sei que naquela data ele não tinha força e nem altura pra isso e meu pai não se ocuparia se tal “brincadeira”; das minhas “crises de sonambulismo” que outros relataram; de premonições e visões a outras situações de sentir presenças e sentimentos alheios quais, assim como a maioria das pessoas, resolvi ignorar e hoje, depois de vivido e convencido dos fatos, evito alardear para não passar por “doido”, pois até eu, que as vivi, demoro a acreditar e preferiria que realmente fosse um devaneio ou apenas coincidências.

Daí sou levado a concordar que “a ignorância é uma de bênção” – se você não sabe, não existe dor[1]. E no máximo encaramos certas realidades assim como, em via de regra, percebemos mendigos na rua; eles sempre estiveram lá, mas nós os ignoramos na maioria das vezes por algum motivo, seja por achar que não podemos fazer nada por eles, seja porque não nos importamos ou não temos alguns trocados, mas, um dia sensibilizados, munidos de moedas, estendamos a mão à realidade daquela pessoa, mas seguimos nosso caminho e voltamos a ignorá-los novamente.

 

Mas o que me fez acreditar na possibilidade da existência do sobrenatural?

Embora não possa mais me considerar um ateu, mas, como supramencionado, até hoje, para acreditar em algo eu preciso de fatos que possam ter possibilidades de serem explicados pela ciência – mesmo que teórica. 

Então... Segundo a ciência, “todo mundo é um campo de energia” e nós pessoas, que fazemos parte do mundo, somos feitos de energia e matéria. Conforme Einstein[2] energia e matéria (o visível e o invisível) têm a mesma origem e ainda, segundo este grande cientista "a matéria é energia condensada e energia é matéria dispersa".

Seguindo este pensamento, somado ao pensamento de Lavoisier[3] que lecionava que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Podemos crer que quando estamos “vivos” temos um corpo físico feito de energia condensada e ao partirmos desta vida, com a destruição de nosso corpo físico viramos “matéria dispersa”, mas “nada se perde”, apenas se dispersa.

É fato científico que “no nosso corpo humano, há minúsculos campos magnéticos que estabilizam as moléculas”[4]. E, por sua vez, o campo eletromagnético é fenômeno que envolve o campo elétrico e o campo magnético variando no tempo. Ou seja, no mínimo temos literalmente energia em nosso corpo. E a energia é algo que pode ser captada até por aparelhos analógicos. Então, se considerarmos os estudos de Lavoisier e de Einstein sobre energia e matéria, será que podemos afirmar que “acabamos” depois de “morrermos”?

Particularmente acredito que não... E tenho hoje um Gaussmeter[5] que me acompanha em determinadas situações peculiares que não me deixa mentir [sozinho]. (...)

Estas são minhas alegações, minhas idiossincrasias, não são dogmas, não exijo que ninguém concorde comigo, nem me ofendo se alguém discordar e nem creio que eu esteja inteiramente certo em minhas convicções. A única coisa que espero é aquilo que ofereço — o respeito aos sentimentos e crenças.

Sou apenas alguém que busca respostas e não alguém que “encontrou a verdade absoluta” como alegam os “vaidosos da religião”, os “boçais da fé” ou os “malucos fundamentalistas” que hoje permeiam as mais variadas denominações. E com aquele que também busca a verdade compartilho uma lição, atribuída a André Gide[6], que aprendi com terceiros: “Confie naqueles que buscam a verdade, mas desconfie daqueles que dizem já ter a encontrado”.

  





[1] Frase atribuída a John Lennon.

[2] Albert Einstein – físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica.

[3] Antoine-Laurent de Lavoisier – nobre e químico francês  que além de ter grande influência na história da química e na história da biologia, é considerado o "pai da química moderna".

[4]SUPERINTERESSANTE. Campo magnético, ele está entre nós. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/campo-magnetico-ele-esta-entre-nos/. Acesso em: 19 jan. 2022.

[5] O Gaussmeter ou Gaussímetro é uma ferramenta essencial para medir e avaliar densidade do fluxo magnético nas escalas Gauss ou Tesla, provenientes de imãs permanentes, equipamentos magnéticos, conjuntos de som e áudio, entre outros.

[6] André Paul Guillaume Gide (1869 — 1951) foi um escritor francês que recebeu o Nobel de Literatura de 1947, pelo seu livro "Os Subterrâneos do Vaticano".

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